Moura Ramos Indústria Gráfica: livros, revistas, embalagens, sacolas, agendas e impressos em geral.: Tesouros perdidos

sábado, 15 de dezembro de 2012

Tesouros perdidos

Fonte: Por Vanessa Barbara - Blog Companhia das Letras
Detalhe do mural no sebo Unnameable Books, em Nova York
Em Conversa fiada (1989), curta de Jean-Pierre Jeunet, o narrador afirma que adora abrir um livro meses depois das férias e encontrar areia entre as páginas. Ele faz uma demonstração da abertura de um desses volumes, com o ruído de areia grudada no miolo.
Grãos de areia, manchas de molho de tomate, páginas que tomaram chuva e marcadores pitorescos são apenas alguns tesouros de férias passadas que podemos encontrar nos livros, reconhecendo imediatamente onde os lemos, quando e em que momento da vida.
Livros são involuntárias cápsulas do tempo que conservam mensagens ao longo da história, endereçadas a quem primeiro decidir abri-los. A interessante revista Found, de Chicago, contém uma seção só para escritos achados em livros.
Semana passada saiu no jornal O Globo uma bela matéria sobre dedicatórias e coisas encontradas no interior de livros usados. No sebo Baratos da Ribeiro, no Rio, o dono guarda numa caixa os objetos descobertos nas páginas: “Cheques, receitas médicas, ingressos de cinema, flores, contas, fotos. Daria uma exposição”, diz. Ele defende que o livro usado traz uma história por vezes mais interessante do que aquela que ele conta.
Segundo um artigo no site AbeBooks.com, há um sebo no Brooklyn, em Nova York, o Unnameable Books, que mantém um painel com esses tesouros perdidos. A variedade é tamanha que a exposição já tomou a parede inteira do fundo da livraria e se espalhou pelas demais.
Espécie de Estante Virtual americana, o AbeBooks fez uma enquete entre seus livreiros perguntando quais foram os objetos mais curiosos encontrados no interior dos produtos. As respostas vão além de cédulas estrangeiras, recortes de jornal e listas de supermercado, e seguem na relação abaixo, junto com informações que encontramos em outras fontes:
- Dentro de um livro de receitas para micro-ondas, uma mulher encontrou quarenta cédulas de mil dólares. Ela comprou o livro por acaso, enquanto esperava uma carona. As notas de mil foram impressas pela última vez em 1934 e são, portanto, mais valiosas do que sua quantia nominal;
- Um cotonete usado;
- Um dente de leite;
- Quarenta trevos de quatro folhas;
- No interior de uma brochura de mistério de 1945, um guardanapo de hotel na Espanha com um nome e um número de quarto;
- Um antigo cartão telefônico da Indonésia;
- Num sebo de Ohio, um homem levou para vender uma caixa de livros que pertenciam a sua recém-falecida esposa, repletos de fotografias da família, cartas e cartões-postais. Num deles havia um pequeno anel de diamantes;
- Dois cartões de visita colados um ao outro. Quando abertos, revelaram uma panorâmica dobrável de 90 centímetros com o melhor da pornografia dos anos 70;
- Uma gota de chocolate enfiada entre a tela de encadernação e a lombada. “Fiquei imaginando como alguém conseguiu enfiar uma gota de chocolate na lombada de um livro e quanto tempo esteve por lá. A data de edição era de 1889”, afirmou o livreiro;
- Um livro de ração da Segunda Guerra Mundial (com selos sobrando);
- Uma documentação de dispensa do Exército durante a Segunda Guerra;
- Uma tesoura;
- Uma faca;
- Um revólver;
- Um cartão de visita de um investigador paranormal;
- Um postal do Havaí de 1963, preenchido mas nunca enviado, no qual um sujeito escrevia para sua esposa em Los Angeles. O leitor que o encontrou botou um selo e enviou o cartão quarenta anos depois;
- Uma carta ao Papai Noel datada de 1929, dentro de uma biografia de Napoleão Bonaparte;
- Uma carta para a Fada do Dente, implorando que ela aceitasse a oferenda de meio dente;
- Gordas porções de caspa;
- Um bilhete maldoso contando o final do livro;
- Uma certidão de casamento de 1879;
- Uma camisinha fechada;
- Uma barata morta;
- Uma tira de bacon.


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“Sério? Você estava fritando bacon enquanto lia e pensou: ‘Ei, talvez o próximo a ler este livro esteja com fome, então vou deixar uma tira de bacon cru para ele’?”, escreveu uma bibliotecária americana que realmente costuma encontrar comida nos livros devolvidos à instituição. Bacon, alface e picles são os campeões de frequência. Num curto artigo, ela dá uma explicação para isso:
“Alguns estão familiarizados com o conceito de usar marcadores de página para determinar em que trecho pararam, mas existe um grupo distinto de pessoas que utiliza o que estiver mais perto para marcar a página, não importa o que seja.”
Nessa lista desastrada estão cheques em branco, cartões de crédito, passaportes válidos, carteiras de motorista e passagens de trem ainda não utilizadas.


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Vanessa Barbara tem 29 anos, é jornalista e escritora. Publicou O livro amarelo do terminal (Cosac Naify, 2008, Prêmio Jabuti de Reportagem), O verão do Chibo (Alfaguara, 2008, em parceria com Emilio Fraia) e o infantil Endrigo, o escavador de umbigo (Ed. 34, 2011). É tradutora e preparadora da Companhia das Letras, cronista da Folha de S.Paulo e colaboradora da revista piauí. Ela contribui para o blog com uma coluna mensal.

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